6 de fev. de 2012

O intermediário (Parte 1)

Fazia frio, o inverno que normalmente era rigoroso desta vez não teve trégua e nem piedade. O frio profundo caiu com toda força sob a cabeça dos habitantes daquela cidade Industrial. Acordar de manhã para ir trabalhar não era de todo, uma tarefa fácil, ir à escola, lavar roupas, era difícil manter uma rotina naquela situação. Mas era preciso...

-RING, RING, RING, RI... – fazia o despertador vermelho até que foi interrompido por uma mão pequena que desejava tudo, menos ir acordar cedo naquele dia.

A idéia de sair da cama em temperaturas a baixo de zero era pavorosa. Assim como o frio, seus pais eram rigorosos, sua mãe logo veio verificar se o filho não voltara a dormir, sendo aquele seu maior desejo... Tomou um chá quente que sua mãe fizera com a alegação que iria esquentar seu dia. Saiu pela porta e de prontidão uma brisa lhe rasgou a face, fazia o tipo de dia que ele mais odiava, havia o sol, porém era muito frio e pra piorar ventava gelado.
Sua escola era algumas quadras dali, ia caminhando e odiava a rotina de ir pelo mesmo caminho todos os dias, sempre que não estava atrasado inventava novas rotas para sair da mesmice. Desta vez resolveu ir por uma viela extremamente estreita, que parecia uma fenda feita com tijolinhos, mais para um beco. Á frente havia a escolha da direita ou esquerda, não havia saída, uma bifurcação. Porém antes de pegar seu caminho alternativo do dia percebera uma portinhola ao lado de um café que ali tinha. O dono do lugar era um japonês que tinha a cara abarrotada pelo sono. Ao lado do café, a tal portinhola resplandecia uma luz suave vindo do interior. Instigado, imaginou o que teria ali, e sentiu-se desafiado, pois pensava que conhecia todos os lugares da redondeza.
Saindo da aula resolveu refazer o caminho, estava decidido que iria entrar na porta, se ali tivesse uma residência se desculparia e iria embora, ninguém iria pensar males de uma criança de dez anos. Tinha seu álibi. Chegando lá, percebera que a luz havia se apagado, mas era tarde de mais, a curiosidade havia lhe domado. Girou a maçaneta e empurrou, como manda o protocolo de manuseio as portas, estava trancada. Aah, não gostava de esperar... Pensou em perguntar ao japonês do café, mas decidiu que quando saísse para brincar, se saísse, voltaria aqui.
Quando era inverno, os dias acabavam mais rápidos, a tarde já era escuro, e com a escuridão vinha mais frio. Cooper resolveu desistir da idéia de ir brincar naquele dia.

 -RING, RING, RING, RING, RING... – o despertador era mais uma vez insistente, e o sentimento lhe tomava conta do corpo mais uma vez.

Arrumou seus materiais e dessa vez recusou o chá da mãe, não estava se sentindo muito bem. Pegou sua mochila em tons pastel que era bem quadrada e grande causando um efeito engraçado quando corria, balançando de um lado pro outro. Ao decidir que caminho iria pegar, resolveu repetir a dose do dia anterior. Entrou no beco e de longe viu uma luz verde em desfoque. Era mais forte que a luz de ontem, porém vinha do mesmo lugar. Com medo de acontecer como antes, resolveu entrar, como não havia tomado café da manhã, ainda tinha uns minutos salvos. Girou a maçaneta empurrou e a porta se abriu, a esquerda havia um balcão, e um senhor o olhou em tom de análise e sorriu.

- O que procura jovem rapaz? – disse o senhor de cabelos brancos vestido de lã.
- Eeer... Nada, só queria saber o que tinha atrás dessa porta – disse o garoto sem jeito.
- Pois bem meu caro, aqui é nada mais nada menos que um universo paralelo, uma válvula de escape, um lugar para se trabalhar o subconsciente e maximizar emoções.

O menino não havia entendido muito bem o que o velho queria dizer, o jeito estranho de falar e após terminar a sentença, sorrir deixava o garoto apreensivo.
- Ahn?!

O senhor sorriu e virou-se pegou um espanador e tirou o pó de uma folha que tinha imprimido a frase “ELES ESTÃO AQUI”. Olhou mais uma vez para o garoto e sorriu mais uma vez. O menino olhando pelo canto do olho com os olhos semicerrados achava aquilo muito estranho, porém colocou-se a ver o que continha naquele lugar. Os balcões pareciam aqueles que armazenavam legumes e verduras em feiras, porém no lugar de alimentos verdes havia encartes multicoloridos ou minimalistas. Logo entendeu que estava em uma loja de discos, nunca havia estado em uma antes porque as lojas do tipo existiam apenas no centro da cidade ou bairros mais afastados, e como não se deslocava para esses lugares freqüentemente não tinha acesso a tais lugares. Seu contato com a música era morno, ouvia o rádio quando saia de carro com seus pais e as vezes no intervalo da escola.

(...)

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