20 de fev. de 2012

A favor da pena de morte

Aviso: Esse post é metaforicamente ilustrativo, qualquer apologia a violência ou coisas do gênero deverá imediatamente ser interpretado como assuntos subjetivos e metafóricos.

Lembro-me dos primeiros anos de escola quando todos os dias a professora nos perguntava sobre algo cuja a resposta resultaria em ir para casa mais cedo. Certa vez nos perguntou se eramos a favor ou contra a pena de morte, e como sempre selecionou alguns alunos para responder. Fiquei de fora, a princípio achei ruim pois eu era bem participativo, mais do que hoje em dia, cheio de opiniões, mas dessa vez eu não tinha nenhuma, não sabia o que responderia caso a professora chamasse pelo meu nome. Não poderia me safar dessa situação com apenas um "sim" ou "não", pois a safada nos exigia uma justificativa. Pois veja bem, com seis, sete ou oito anos no máximo tínhamos que ter uma opinião formada pelos assuntos da atualidade e dizer o porque sustentávamos tal posição... Prematuridade, tsc.

Pois bem, anos (alguns) se passaram e finalmente cheguei a um consenso sobre o assunto, de uma forma mais categórica, cultural e menos pragmática, desculpem pela excentricidade. Sigo, com cultos e cortejos, a opinião de que "o que era para estar morto tem de morrer". Livre das generalizações ressalto que não faz sentido cultivarmos coisas supostamente mortas.

É um assunto um tanto quanto aleatório, até me surpreendi no trajeto até essa ideia, mas como vivemos em um mundo de "nuvens tecnológicas" nada mais justo que um assunto interligar-se com outro e formar essa rede de pensamento. Contudo, o assunto que originou essa cadeia de pensamentos foi a notícia que Adam Lambert será o novo vocalista do Queen. Não existem razões maiores ou motivos que eu possa exemplificar para tal descontentamento, apenas acho que a banda foi icônica por seu vocalista que se consagrou por ser um dos maiores vocais do Rock 'n' Roll, já tentaram, sem sucesso, substitui-lo e não aprenderam com o erro, agora tentarão com um vocal que desta vez não tentará copiar o do primeiro vocalista, porém não tem nada a ver com a banda. Sem contar que existe toda uma aura de legado, por trás de tudo, de fazer história, Freddie Mercury certamente deixou a vida com ambos muito bem estruturados, mas sua banda parece vir com uma bola de concreto para derrubar tudo que foi construido. É como tentar ressuscitar os Beatles com um Noel Gallagher da vida, cantando com uma voz nasal e incorporando o espírito Peace and Love do John. Guilhotina para o Queen.

"To sing this song takes 3 humans or one Freddie Mercury."  

Para a forca todos aqueles que não somam para a sua vida, pessimistas, supostos amigos, fofoqueiros e filhos da puta em geral. Um tiro certeiro no cérebro para os sentimentos remoídos, incertezas, inseguranças e arrependimentos. Um copo de veneno bem servido para as coisas que não deram certo, e ao túmulo uma rosa simbolizando o recomeço. Para o alto mar cheio de tubarões, os erros das nossas vidas, que estes predadores do mar não deixem restar nem sombra de ressentimento ou mágoas. Um empurrão para a frente de um trem em alta velocidade especialmente para os que só sabem te deixar para baixo, que duvidam do seu sucesso, que para cada sete copas que jogamos eles lançam um zap, tentam ser melhores que nós, não sabem subir sem rebaixar, para estes, eu tenho o enorme prazer de puxar o gatilho sem ressentimento, e disparar um cartucho inteiro para me certificar que estão devidamente mortos.

Sobre a minha opinião sobre o verdadeiro debate da pena de morte ainda não tenho posição formada, e estou bem assim, entretanto, adquiri um amor próprio tão imenso que qualquer técnica de assassinato seria banal. Em caso de morte, o ressuscitaria em dois tempos.


Cheers.

15 de fev. de 2012

Open Mind.

- Ah seu curso é fácil.
- Tirar nota máxima é obrigatório no seu curso.
- Publicidade é curso pra pessoa que não sabe o que quer da vida.
- Você vai morrer de fome.

Essas são apenas algumas coisas que costumo ouvir constantemente diretamente para mim ou para os meus amigos de curso. Como se já não bastasse ser pedante e julgar ainda apresentam argumentos como se já tivessem o diploma de comunicação social na parede. Estes normalmente são aqueles que julgam grosseiramente generalizando os fatos. São os que definem publicidade e propaganda em: "faz uns logos legais, uns vídeos e promove as marcas", e pensam que nós chegamos no primeiro dia e estudamos photoshop, corel draw, premiere e que mandamos ver nas aulas práticas, não tem nem sombra de ideia que talvez estudamos várias coisas relacionadas diretamente à comunicação, que acrescentamos a nossa bagagem cultural com aulas artísticas, que desenvolvemos senso crítico e olhar estético mais apurado... Porque né? Julgar é bem mais fácil, mais rápido e mais eficaz na parte de tentar se sobressair com aquilo que faz. Eu fico pensando qual o propósito disso, será que são convictos que com isso as pessoas vão parar de fazer faculdade ou mudar de curso? Têm é que parar para pensar em suas vidas, e resolvê-las, porque os bem resolvidos da histórias não são vocês.
Estes também não durariam duas aulas de Teorias da Comunicação porque são mente fechada de mais para saber sair do seus ideias e beber em outras fontes. Na terceira aula de Linguagem e Expressão em Arte sairiam da sala reclamando o quão tediosa é a aula, o quão desnecessário é estudar pinturas, movimentos culturais e a arte em si, não se permitiriam abrir-se e acumular bagagem cultural. Mas acima de tudo, estas são pessoas que não estão satisfeitas com seu curso, ou tem o ego inflado de mais pensando que sua profissão será de maior ajuda ao mundo do que a outra. Acham que dinheiro é sinônimo de realização profissional e são as mesmas que ostentam objetos e marcas como forma de elevação de status. Pois bem, prefiro viver uma vida nos limites da conformidade do que fazer algo mecânico e calculado, prefiro milhões de vezes ir para uma agência fazer o que vocês acham que os profissionais do campo fazem do que ser mais um tijolo na parede, mais um apertando parafuso, porque no fim das contas eu vou ser aquele que vai responder "adoro minha profissão e me sinto realizado" quando alguém perguntar sobre, vou deitar na cama com lembranças dos projetos que realizei e do trajeto em grupo que aconteceu, relembrar histórias e momentos de uma fase da minha vida que é marcada por realização interior.

Desabafo - Lucas Guarniéri

13 de fev. de 2012

White lodge

Lembro-me de uma memória da infância.

A turma da primeira série se preparava para um passeio por uma trilha de macacos, seria minha primeira vez lá, mas eu estava enganado... Ao sair para brincar de tarde no dia anterior, reuni com os amigos e ao comentar sobre o passeio disse sem hesitação que já havia ido a tal trilha com meu pai. Eles me perguntaram como era e expliquei com detalhes sobre a trilha, sobre a fauna e flora e até sobre a fisionomia dos macacos. Contei que no fim do passeio meu pai e eu colocamos várias mangas no chão aonde os macacos rapidamente vieram e comeram com uma vontade sem igual.
Chegou o tal dia e tudo aconteceu como descrevi, as trilhas eram divididas em três, cada uma com 3 km cada, totalizando em 9 km andados aquela tarde. Passamos por formigas enormes como eu havia dito, nas copas das maiores árvores vimos micos-leões pular de galho em galho com tal maestria que deixaria qualquer circense com vontade de regredir na evolução humana. Ao fim do dia, as mangas amontoadas, mas dessa vez com a ajuda dos inspetores e professores, até a convicção com que os animais comiam as frutas era parecida com a vez que havia ido com meu pai...
Cheguei em casa, à mesa com meus pais e me perguntaram como havia sido o passeio, e eu de prontidão respondi:
- Foi muito bom, mas foi um pouco sem graça porque já tinha ido lá com o senhor - e olhei em direção ao meu pai.
Meu pai deu uma olhada de canto de olho para minha mãe e os dois olharam para mim:
- Mas eu nunca fui lá com você filho - disse meu pai.

E desde então, não sei distinguir realidade de sonhos...

História verdadeira - Lucas Guarniéri 

12 de fev. de 2012

Interpretação - Idioteque

Interpretação que fiz da música Idioteque do Radiohead para o fórum do Radiohead Brasil, confira a letra aqui e a música aqui.

Tentei linkar o título da música com a música em si e criei uma interpretação. Não sei viajei muito, porém creio eu que essa seja a graça das interpretações, uma vez que não teremos certeza a não ser que saibamos dos próprios compositores, temos essa leveza de interpretar... Vamos lá.

Women and children first
And children first
And children...
I'll laugh until my head comes off

Nessa parte aqui, eu interpretei como um plano sequência, o fato de que criou-se uma hierarquia de importância de seres vivos em circunstâncias catastróficas é tão ridícula que ele ria desses "idiotas" que criaram ou obedeceram a essa regra. Se formos parar pra pensar essa regra estabelecida não tem sentido uma vez que a maioria de nós busca uma sociedade universal igualitária, sem distinções de sexo ou idade, quando se trata de salvar vidas, somos todos humanos, com histórias, família e vidas que deixaríamos para trás caso morrêssemos.

E em geral, eu creio que a música não fala de uma catástrofe ou algum acontecimento em específico, acho que seja uma coisa mais a longo prazo, como se a humanidade estivesse destruindo a humanidade em uma metalinguagem da destruição, apocalíptica.

We're not scaremongering
This is really happening, happening
We're not scaremongering
This is really happening, happening

Não estamos "scaremongering" ou alarmistas porque é uma coisa que não acontece de imediato, então a humanidade não é alarmista por não ser coisa do aqui e agora.
"This is really happening" apesar de ignorarmos, está acontecendo, em uma velocidade imperceptível, porém está acontecendo. Ficariamos alarmistas e saberíamos que está mesmo acontecendo se acontecesse terremotos simultâneos no mundo inteiro, por exemplo.

E quando diz:

Mobiles working
Mobiles chirping
Take the money and run
Take the money and run
Take the money...

Pega o dinheiro e corre, vá viver sua vida, gaste, aproveite enquanto pode, goze do melhor que a vida te oferece. Como se fosse um "viva cada dia como se fosse o último" clichê, porém representa essa ideia da urgência de se viver.

11 de fev. de 2012

Só.

Que junto do arrepio
venha o espirito da nostalgia
espero que não seja o frio
a me tirar essa alegria

Que junto do solo sagrado
me venha a sabedoria
de ser bem interpretado
aquilo que dizia a biblia

Que da ingenuidade da virgem
eu tire o potencial do pecado
que se exprema a libidinagem
e faça um suco adociado

Memórias de um saudosita, santo e pecador.

Lucas Guarniéri

8 de fev. de 2012

O intermediário (Parte 6) Final

Atenção: Se chegou aqui pela home do blog ou pelas postagens anteriores e está interessado em ler a história na íntegra clique aqui para ir para o primeiro post. Depois clique em "Visualizar postagens antigas" para ler na ordem. 

Assim que a música acabou com o fade, o menino respirou fundo e suas pupilas se dilataram, chacoalhou a cabeça como se tivesse se livrado de um transe e disse:

-Esse é legal, mas muito triste, não gostei muito, prefiro os outros dois que ouvi primeiro.
O homem sem entender nada e muito confuso com a reação do menino ficou calado, mal sabia ele que seus olhos tinham se arregalado em uma dimensão fora do normal. Achou estar sendo punido do que fez, como se a voz de um anjo justiceiro falasse sobre a voz inocente daquela criança, para se certificar o homem perguntou ao menino:
- O que você achou da faixa New Dawn Fades mesmo? Eu não ouvi direito, do que se trata?
E o menino respondeu de prontidão:
- O que? Não entendi, do que você ta falando?

O homem virou as costas, o desespero tomou conta de seu corpo, seguido por um vazio enorme, tudo fazia sentido, pela primeira vez se arrependeu do que havia feito. Entendeu que havia cometido um grande erro...
Um clarão vinha da cabine, uma força de dentro de seu corpo dizia para o homem seguir até lá. Como se fosse obrigado, seus pés, um de cada vez trilharam o caminho até lá, quando chegou na porta, o menino que via a cena assustado só teve algo a perguntar:

-HEY, qual é seu nome?

O homem virou a cabeça em câmera lenta para a direita e quando seu queixo encontrou com seu ombro ele sussurrou:



- Curtis...

O intermediário (Parte 5)

----New Dawn Fades----
-Essa é sobre mudanças, e sobre liberdade. Esse “so you say” no final da frase “a loaded gun won’t set you free” nos da a entender que a morte é bem vinda, se assim nos libertar.

----She’s Lost Control---
-Eu acho que aqui a mulher dele percebeu que ele pulou a cerca e ficou muito nervosa – o menino solta uma risada gostosa de ouvir.

----Shadowplay----
-Essa é mais animada, apesar do título. Tenho a impressão de que já ouvi um cover dela de uma banda, só que era um pouco mais eletrônico. Mas o ritmo animado é só uma máscara para uma letra soberba.

----Wilderness----
-Essa é a mais pesada, uma critica direta a religião, que a acusa de destruir o conhecimento. É a que transmite mais peso, talvez por ter sangue de Jesus no meio.

----Interzone----
-Essa é bem punk, nem parece estar em um álbum soberbo e profundo, achei desconexa.

----I Remember Nothing-----
-Essa é bem pessoal a quem a escreveu, mas tem momentos que acho que é para sua esposa novamente, como uma jaula, como se a proximidade criasse uma distancia insuportável.

A música tinha alguns minutos ainda, e o menino então complementou:

- É a última, é um álbum muito bom, intenso e misterioso, melancólico, um desabafo, problemas, crises existenciais. Creio que quem escreveu as letras passava por um estado mental difícil, se viu várias vezes entre a vida e a morte, mas pelo que eu pude entender eu acho que ele conseguiu passar por cima de tudo isso... creio que o pior não aconteceu.

(...)

O intermediário (Parte 4)

----Disorder-----
-Hmmm, é mais pesado, tem uma atmosfera mais sombria do que os outros dois que eu ouvi. – disse o garoto tentando buscar explicações racionais para o que estava ouvindo. – imagino que essa música se trate da nossa posição na sociedade em alguns momentos, somos perdidos.
O homem não conseguia emitir som algum, era inacreditável o fato de um menino daquela idade ter uma mente daquelas e se colocar na posição de resenhar um álbum ali, a primeira ouvida.

----Day of the Lords----
- Essa é mais sensível, melancólica, mas ouso dizer que ainda se trata da sociedade, como um campo de concentração, onde só os fortes sobrevivem.
Ao ouvir a última parte dessa sentença sentiu uma pontada profunda no coração, uma vergonha imensa como se tivesse fugido de algo, como se tivesse fracassado em sua missão. Não estava se sentindo bem na presença daquele menino. Pôs se de pé por reflexo e saiu da cabine por um momento, o menino o seguiu com os olhos. O homem imóvel parecia não agüentar aquilo, quis sair correndo, mas sabia que tinha um preço a pagar, tinha que ouvir aquilo... Voltou para a cabine.

----Candidate----
-Essa pareça que a pessoa narrada estava dividida entre dois amores e pela culpa sentida... “It’s Just second nature” olha, a frase que você me disse a pouco, você é um grande fã da banda?
O homem fez que não com a cabeça.
- Não, foi apenas uma coincidência.

----Insight-----
-Aaah, essa eu já acho que o homem está superando a culpa, quando ele diz “but I don’t care anymore” ele mostra certa indiferença não é? Tem certa nostalgia também.
O homem parecia ter perdido alguns sentidos, apenas fitava o garoto tentando buscar em seus olhos a resposta de uma alma tão profunda.

(...)

O intermediário (Parte 3)

 O garoto hesitou por um momento, aquilo não parecia certo, porém a experiência havia sido mágica, precisava daquilo, seu corpo e mente necessitavam de algo novo. Deu meia volta e pôs se a olhar os vinis novamente. Olhou para o lado e viu o homem com o mesmo vinil de capa preta nas mãos:

- Qual é este que você esta segurando? – perguntou o menino.
-Apenas um álbum qualquer, sem importância.
- Essa capa é legal, me lembra montanhas.
- Na verdade, a capa se trata da freqüência capturada por um medidor de pulso de uma estrela morta.
 O menino ergueu as sobrancelhas em tom de surpresa.
- E esse nome? Do que se trata? Joy Division... A divisão da alegria, o que será que o criador do nome quis dizer com isso?
- Joy Division era o nome dado pelos nazistas pela repartição que continha mulheres judias, eles iam lá e se divertiam.
- Eu gosto de histórias assim, acho que nada tem que ser feito superficialmente, se não tem um porque ou um pretexto, não é válido.

O homem olhou o garoto com seus olhos preto como a penumbra das noites mais escuras.

-Posso ouvi-lo? – Perguntou o menino fazendo um gesto para que o homem lhe entregasse o vinil.
O homem hesitou e parou por alguns segundos, seu rosto perdeu a expressão total e lentamente fez o trajeto entre sua mão e a do garoto. Apressado o menino pegou o álbum de sua mão e, pôs se de prontidão a caminho da cabine. O homem não sabia o que fazer, apenas o seguiu e sentou na frente do garoto com uma mesa a separar-los.
- Pensando bem, tem outros discos mais legais, vou pegar outro dos Beatles que acho que você vai gost... – era tarde de mais, o garoto já havia tirado o vinil do encarte e colocado na vitrola. No momento em que a agulha tocou na superfície preta fazendo seu primeiro barulho o coração do homem acelerou de uma forma que pensou estar tendo um ataque... o que já não era mais possível.

(...)

O intermediário (Parte 2)

Colocou-se em frente de uma pilha de vinis e começou a passar um por um, olhou para o lado e viu uma cabine que continha uma vitrola. Perguntou ao homem que estava ao seu lado na loja de vinis se podia pegar um vinil daquele e ouvir na cabine.  O moço apenas afirmou com a cabeça. O homem continha uma cara de concentrado e parecia ser de poucas palavras, olhava atentamente para cada vinil como se fossem livros, cada um com a sua singularidade e história. Pelo canto do olho ele viu o álbum que o menino havia escolhido para ouvir na cabine. Era o Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Bands dos Beatles, o homem seguiu o garoto com os olhos até colocar o vinil na vitrola. Observou a cara do garoto ao ouvir a primeira faixa, era como se estivesse descobrido um novo mundo, ficou entusiasmado, aquela melodia era envolvente, seus olhos brilhavam.
O homem se aproximou com um LP em mãos, ele tinha uma jaqueta com os dizeres HATE nas costas, escrito a mão, um pincel e tinta.

- Garoto, esse álbum que você esta ouvindo foi influenciado por esse – o homem mostrou o Pet Sounds dos Beach Boys – acho que você vai gostar.
O menino olhou pra cima pois estava sentado e apanhou o vinil, analisou a capa, olhou pra cima novamente e quando foi agradecer:
- Obri... – o homem não estava mais ali.

Acabara de ouvir o álbum e logo colocou o outro, balançava a cabeça no ritmo das melodias suaves. No meio do álbum resolveu olhar para o relógio, ficou estupefato, seu coração batia rápido, estava tão mergulhado naquelas melodias e letras que tinha se esquecido da escola, colocou-se de pé em um súbito momento, mas percebera que era tarde de mais, naquela altura os portões já haviam se fechado. Perguntou-se o que diria a sua mãe, ela não permitiria tal irresponsabilidade, apesar de possuir apenas dez anos,  o cargo que os pais depositavam nele eram grandes. O vinil ainda estava tocando, e a melodia o acalmou, pensaria nisso mais tarde. Terminou de ouvir e juntou os dois vinis para colocar na pilha. Ao lado, novamente o homem olhava concentrado para um encarte preto com linhas tortas na cor branca.

- Gostei muito do álbum que você me indicou, obrigado – o menino sentiu-se na obrigação de agradecer pela experiência. O homem não fez sequer um gesto de que havia ouvido o que o garoto dissera. Cooper então pôs se a sair da loja de vinis, precisava pensar no que diria para sua mãe, pela primeira vez a idéia de mentir fora cogitada. Antes de chegar na porta ouviu um chamado:
- Garoto, espera... – O homem de preto o chamou, ficara encantado com a possibilidade de o menino ouvi-lo, porém, em seu âmago não havia mudado por conseqüência do que lhe ocorrera. O menino olhou para trás surpreso, pensava que o homem não queria conversas:
- Aonde vai? – Perguntou o homem.
-Pra casa, me distrai com a música e perdi a hora da escola, preciso dizer a minha mãe o que aconteceu – o menino parecia extremamente ingênuo assim como era.
-Às vezes é preciso mentir, para bens, não se martirize com isso, é apenas uma segunda natureza. – o homem disse em tom sábio.
-Nunca menti antes, não sei se consigo, mas fato é que meus pais são bem duros comigo em relação a estudo.
-Fique aqui até dar a hora de terminar as aulas e depois aja como se tivesse realmente ido, para confortar a sua mente, não perca mais à hora, ou estude em um horário extra, pode ser à tarde, faz frio e você não terá nada para fazer.

(...)

6 de fev. de 2012

O intermediário (Parte 1)

Fazia frio, o inverno que normalmente era rigoroso desta vez não teve trégua e nem piedade. O frio profundo caiu com toda força sob a cabeça dos habitantes daquela cidade Industrial. Acordar de manhã para ir trabalhar não era de todo, uma tarefa fácil, ir à escola, lavar roupas, era difícil manter uma rotina naquela situação. Mas era preciso...

-RING, RING, RING, RI... – fazia o despertador vermelho até que foi interrompido por uma mão pequena que desejava tudo, menos ir acordar cedo naquele dia.

A idéia de sair da cama em temperaturas a baixo de zero era pavorosa. Assim como o frio, seus pais eram rigorosos, sua mãe logo veio verificar se o filho não voltara a dormir, sendo aquele seu maior desejo... Tomou um chá quente que sua mãe fizera com a alegação que iria esquentar seu dia. Saiu pela porta e de prontidão uma brisa lhe rasgou a face, fazia o tipo de dia que ele mais odiava, havia o sol, porém era muito frio e pra piorar ventava gelado.
Sua escola era algumas quadras dali, ia caminhando e odiava a rotina de ir pelo mesmo caminho todos os dias, sempre que não estava atrasado inventava novas rotas para sair da mesmice. Desta vez resolveu ir por uma viela extremamente estreita, que parecia uma fenda feita com tijolinhos, mais para um beco. Á frente havia a escolha da direita ou esquerda, não havia saída, uma bifurcação. Porém antes de pegar seu caminho alternativo do dia percebera uma portinhola ao lado de um café que ali tinha. O dono do lugar era um japonês que tinha a cara abarrotada pelo sono. Ao lado do café, a tal portinhola resplandecia uma luz suave vindo do interior. Instigado, imaginou o que teria ali, e sentiu-se desafiado, pois pensava que conhecia todos os lugares da redondeza.
Saindo da aula resolveu refazer o caminho, estava decidido que iria entrar na porta, se ali tivesse uma residência se desculparia e iria embora, ninguém iria pensar males de uma criança de dez anos. Tinha seu álibi. Chegando lá, percebera que a luz havia se apagado, mas era tarde de mais, a curiosidade havia lhe domado. Girou a maçaneta e empurrou, como manda o protocolo de manuseio as portas, estava trancada. Aah, não gostava de esperar... Pensou em perguntar ao japonês do café, mas decidiu que quando saísse para brincar, se saísse, voltaria aqui.
Quando era inverno, os dias acabavam mais rápidos, a tarde já era escuro, e com a escuridão vinha mais frio. Cooper resolveu desistir da idéia de ir brincar naquele dia.

 -RING, RING, RING, RING, RING... – o despertador era mais uma vez insistente, e o sentimento lhe tomava conta do corpo mais uma vez.

Arrumou seus materiais e dessa vez recusou o chá da mãe, não estava se sentindo muito bem. Pegou sua mochila em tons pastel que era bem quadrada e grande causando um efeito engraçado quando corria, balançando de um lado pro outro. Ao decidir que caminho iria pegar, resolveu repetir a dose do dia anterior. Entrou no beco e de longe viu uma luz verde em desfoque. Era mais forte que a luz de ontem, porém vinha do mesmo lugar. Com medo de acontecer como antes, resolveu entrar, como não havia tomado café da manhã, ainda tinha uns minutos salvos. Girou a maçaneta empurrou e a porta se abriu, a esquerda havia um balcão, e um senhor o olhou em tom de análise e sorriu.

- O que procura jovem rapaz? – disse o senhor de cabelos brancos vestido de lã.
- Eeer... Nada, só queria saber o que tinha atrás dessa porta – disse o garoto sem jeito.
- Pois bem meu caro, aqui é nada mais nada menos que um universo paralelo, uma válvula de escape, um lugar para se trabalhar o subconsciente e maximizar emoções.

O menino não havia entendido muito bem o que o velho queria dizer, o jeito estranho de falar e após terminar a sentença, sorrir deixava o garoto apreensivo.
- Ahn?!

O senhor sorriu e virou-se pegou um espanador e tirou o pó de uma folha que tinha imprimido a frase “ELES ESTÃO AQUI”. Olhou mais uma vez para o garoto e sorriu mais uma vez. O menino olhando pelo canto do olho com os olhos semicerrados achava aquilo muito estranho, porém colocou-se a ver o que continha naquele lugar. Os balcões pareciam aqueles que armazenavam legumes e verduras em feiras, porém no lugar de alimentos verdes havia encartes multicoloridos ou minimalistas. Logo entendeu que estava em uma loja de discos, nunca havia estado em uma antes porque as lojas do tipo existiam apenas no centro da cidade ou bairros mais afastados, e como não se deslocava para esses lugares freqüentemente não tinha acesso a tais lugares. Seu contato com a música era morno, ouvia o rádio quando saia de carro com seus pais e as vezes no intervalo da escola.

(...)