22 de set. de 2012

Em uma cidade de interior inabitada de um estado sem importância, um garoto de face dura e semblante soturno vagava por diretrizes inóspitas de pensamentos exacerbados. Contemplava o silêncio de forma ofensiva, sentia-se desqualificado para todo e qualquer papel no mundo, entregou-se ao conformismo. Fazia coisas que não gostava e projetos que jamais iria terminar, na maioria das vezes, nem começar. De planos utópicos fazia coleção. E as dores que a vida lhe ofereceu eram guardadas em seu quarto vazio que, em uma visão semiótica, representava solidão. Descobriu o poder do ser humano, imperfeito. Dos perfeitos tinha nojo, para o inferno. Vasculhou as maiores podridões que o mundo poderia guardar, depositada em seus seres, humanos... Tornou-se mestre nas fraquezas alheias. Explorava como ninguém as feridas abertas que apenas um esculpir do tempo poderiam cessar. Torturava em forma de nostalgia, massacrava em forma de saudade e matava em forma de amor. Seus disfarces eram sutis, dignos de um verdadeiro mestre. Suas razões eram desconhecidas, assim como seus prazeres. Detestava as desnecessidades, gostava de ser pragmático... E letal. Inimigo da misericórdia, espião do desespero. Em uma de suas provações, cortou a corda que impedia os pés de pairarem no ar. Era de mais para si, tanto sofrimento. A intensidade dos olhos o intimidou. Encarava como um espasmo mortal de podridão universal na qual vivia, sem resquício de luz que conduzia a liberdade. Vertiginoso, caiu... Em um plano astral, no salão negro, no canto mais escuro da sua mente, em uma viagem metalinguística. Não era possível criar sentidos, a essência havia se perdido, as potências não poderiam mais ser aumentadas e os bons encontros ficaram na nostalgia que, por vezes, era uma de suas poderosas armas. Da saudade não provou, mas do amor... Sofreu em dobro tudo que havia causado, o pior dos castigos havia caído sobre seus pensamentos, como um raio dilacerando os neurônios restantes. A maçã intocada, tão saborosa e vermelha, com uma barreira moral gigante que isolava o seu conquistador em potencial. Quando se iludiu com a ideia de se aproximar, a história contabilizava números surreais de vermes vaiando o até então “livre arbítrio”. Tão suja raça que cria, descria e discrimina. Que espaço-tempo mais estúpido era esse que não se podia ter o que se almejava? Qual a servidão da utopia então?
Então, o passar do tempo revelou que jamais existira. Um mal entendido, assim como a terra ter sida categorizada como quadrada. Pouco importava, no fim talvez, esse era um dos seus maiores desejos.
Vai saber...

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